Professor de Direito da Rede UniFTC alerta sobre perigos na mudança da política de privacidade do WhatsApp

Professor de Direito da Rede UniFTC alerta sobre perigos na mudança da  política de privacidade do WhatsApp

O WhatsApp vai mudar sua política de privacidade a partir do dia 15 de maio, autorizando que algumas informações dos seus usuários sejam compartilhadas com o Facebook – proprietário do mensageiro – para melhorar a experiência comercial, podendo fazer anúncios mais personalizados.

A data atual já é resultado de um adiamento. A mudança ocorreria originalmente em fevereiro, mas foi adiada por conta da repercussão negativa. Apesar do Facebook garantir que o conteúdo das mensagens não será divulgado, continuando com a criptografia de ponta a ponta, ainda existem diversas dúvidas sobre quais dados serão transferidos e como isso pode afetar a vida do usuário.

O doutor em direito e especialista em Ciência de Dados e Big Data Analytics, Rafael Freire, considerou o comunicado do WhatsApp incoerente na explicação do compartilhamento de dados com o Facebook e explica que isso desconsidera as obrigações previstas na Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD).

“Como eles vão melhorar a experiência comercial, podendo fazer anúncios mais personalizados, se eles não terão acesso? É difícil a gente acreditar que nossa privacidade não será invadida, que nossas mensagens não serão lidas e saber que tipo de dado será colhido é impossível, porque eles não disseram de forma específica”, comenta Rafael Freire, que também é professor da Rede UniFTC.

Neste ano o Facebook, que possui cerca de 2,8 bilhões de usuários, já foi palco de um dos maiores vazamentos de dados da história. O registro de 533 milhões de contas da plataforma, incluindo informações do próprio Mark Zuckerberg – criador do Facebook – foram divulgados gratuitamente em um fórum de hackers. Entre eles, cerca de 8 milhões de contas vazadas eram de brasileiros. Os dados incluíam número de telefone, nome completo, data de nascimento e endereço de e-mail.

Rafael pontua que este tipo de situação causa fragilidade no usuário do aplicativo, que não tem controle sobre os dados que estão sendo cedidos e se vê obrigado a aceitar as exigências do app para conseguir utilizar o mensageiro de forma completa e sem limitações. De acordo com informações divulgadas pelo Facebook, quem não aceitar a mudança sofrerá diversas limitações, como a impossibilidade de enviar mensagens durante um período de tempo.

Para o especialista, os mais afetados com essas políticas são os usuários. “Nós pessoas físicas estamos completamente expostas. Nossos dados estão sendo colhidos pelos mais diferentes setores da sociedade e, a grande maioria, um compartilhando com o outro sem qualquer controle. A ideia de estarmos inseridos na sociedade da informação e poder nos utilizar uma rede social é que estejamos expostos, mas com nossos dados respeitados e que eles sejam utilizados apenas para as finalidades que nós consentimos”, alerta o advogado, completando que “infelizmente, nós estamos com nossa privacidade completamente devastada. Esta mudança no WhatsApp só veio para confirmar o que já vem acontecendo ao longo das nossas relações na rede”.

Relação de consumo

Além dos problemas com a LGPD, a situação da mudança da política de privacidade do WhatsApp pode gerar problemas também no âmbito do Código de Defesa do Consumidor. Conforme o Código, o fornecedor, seja de produto ou serviço, não pode recusar atendimento às demandas dos consumidores.

“A relação do usuário com o WhatsApp é de consumo, isso não resta dúvidas. Então a gente vai ter ainda uma longa jornada em relação a isso. Precisamos saber como o Programa de Proteção e Defesa do Consumidor (Procon)  vai agir e o judiciário vai se portar, pois vão surgir demandas judiciais”, analisa.

Com a nova repercussão gerada em cima da mudança na privacidade do aplicativo mensageiro, o Ministério Público Federal, o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) e a Secretaria Nacional do Consumidor solicitaram ao Facebook um novo adiamento da data.